21 de agosto de 2013

[502] Episódio Seis: O Passarinheiro

Paolo, o pai que procuro não é você. Tenho o seu carinho e me lembro de seus conselhos, de suas histórias...
Paolo, o meu amor trazido de fora da carne para dentro do coração. Quando se casou com minha mãe, abraçou-me como sua...

Lembro-me de seu jeito descompromissado, um tanto alienado, um cuidador de passarinhos...


MEU PASSARINHEIRO

E lá vem ele, com pássaros raros, radiante, encostado em um canto, cercado por suas gaiolas belíssimas, vendendo ilusão. Enquanto espera, pensa... Pensa se sabe pensar...

Não adianta esconder o que está à vista: o cansaço, o desalento, a acomodação, o desânimo, a tristeza da alma contida em um corpo trincado, trancado, trocado pelas emoções conturbadas.

Não adianta pensar se não fizer acontecer. As orações muitas vezes parecem vãs e a vontade de fugir surge, e a força externa do mundo sobressai ao eu, engolido pelo desejo, pelas vontades de fazer o que não se pode em função de...

Passa-se o tempo e este tempo parece curto para a desculpa do não fazer. A fuga se engrandece e fica nas palavras o que deve ser... E não se faz... E não se modifica em alegria o que incomoda o espírito tumultuado em fase de busca...

A lamentação passa a ser o primeiro comportamento da falta do movimento de mudança, e o medo o acompanha. Por quê? Talvez porque a transformação seja inútil, ou improvável, ou impossível...

O meio termo não é suficiente e o fazer se torna utópico diante dos olhos do querer... Cai na apatia e entrega-se ao seu dia-a-dia sem graça e por obrigação. O corpo amolecido entorpece e embebeda a vontade de... e no marasmo em que se encontra, digere o tempo de não viver.

Questionar é um começo, mas não é a solução. O aprender é uma forma de tentar, mas não é nada se a prática não acontecer. Imediato seria o momento da mudança para apagar a angústia que toma conta do peito e cala a voz que grita, interna, e mata aos poucos a esperança de ter, ainda nessa vida, uma felicidade real e um pouco mais duradoura.

E o tempo compartilha com o não-fazer e apaga o desejo de querer transformar, e ser, e viver, e... o que parece fácil diante de outro olhar...

Não se mede a dor da inércia... E o choro contido se retrai, as lágrimas engolidas esperam a hora de, trancado no quarto, se permitir sentir o que é repreendido, inaceitável, incompreendido...

[...] [?] [...]

E lá vai o passarinheiro, mais uma vez, quando o choro se esgota, a alma se convence da passividade, vendendo a liberdade, trancada em gaiolas, perdido pelos cantos dos curiós, bem-te-vis, sabiás...



Meu Paolo, como estará você? Vou procura-lo. Ligarei mais tarde. A saudade abrandará e ouvir sua voz será um alívio para as minhas preocupações.

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