Quero o cheiro do jasmim exalando pelo ar! O gosto da carambola, mordida com força, apetitosa, e o suco azedo a escorrer pelo canto da boca cheia de prazer por apreciar o macio da polpa amarelo-esverdeada da fruta de vez tirada do pé. O abio! O jamelão! As mãos molhadas, tingindo de infância a roupa de algodão...
Quero ouvir o latido do cachorro Bob chamando pra brincar de correr pelo
quintal... O cantarolar da velha Doralice, negra de pele brilhante, gorda,
bonita e sestrosa, enquanto cozinha, na lenha, o doce de jenipapo... O grito da
araponga... O falatório do papagaio... O som do passarinho que sai do relógio
da sala de estar...
Quero ver o beija-flor parado me admirando a admirá-lo na janela do
sobrado... Espiar os moços bonitos que passam na rua do mercado em frente à
casa da vovó... A banda tocando marchinhas a caminho do caramanchão da praça
todos os domingos... As crianças na rua... Os pregoeiros nos portões,
oferecendo o que sempre falta na hora de preparar o jantar...
Quero o sossego das tardes de outono... O brincar na rede amarrada a
duas árvores do quintal... Sentir o chão de terra batida nos pés descalços a
percorrer o jardim nas tardes quentes de verão... O colo da mãe da mãe Eloah que
tanto me falta... A atenção, mesmo desmiolada, de Paolo, aquele pai-padrasto
sempre presente... O carinhoso abraço da Shak... Deixar-me sentir saudade daqueles
que não se afastam dos meus pensamentos...
Quero o querer sempre até não poder querer mais... Quero sentir o
coração acelerar e o pulsar ansioso do não pensar... Quero a espontaneidade do
fazer... Quero a despreocupação do saber ter que ser... Quero poder fazer o que
desejar... Quero a saudade nostálgica do que na memória está..
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